Estreias de 2015

Neste primeiro artigo de 2015, escrevo sobre dois primeiros acontecimentos relacionadas com fotografia neste ano: a primeira exposição que vi e o primeiro livro que comprei.

Curiosamente foi preciso sair de Lisboa para ver a primeira exposição que realmente me suscitou interesse este ano (apesar de ter sido inaugurada ainda em 2014). Trata-se de “Esta terra é a tua terra – os anos 90 em Portugal, na Colecção dos Encontros de Fotografia“, no CAV em Coimbra. Com curadoria de Sérgio Mah, é uma compilação de obras da Colecção dos Encontros de Fotografia, sobre vários temas relacionados com o Portugal dos anos 90 realizadas sob encomenda nessa mesma década.

A visita a esta exposição deixou-me duplamente surpreendido: pela qualidade dos trabalhos apresentados e por ter ficado a saber que, nos anos 90, Coimbra representava um importante pólo da fotografia nacional.

No que toca à qualidade, seria difícil falhar tendo em conta os autores: António Júlio Duarte, Cristina Garcia Rodero, Christophe Bourguedieu, Daniel Schwartz, Debbie Flemming Caffery, Duarte Belo, Frédéric Bellay, Gabriele Basilico, Hugues de Wurstemberger, John Davies, José Manuel Rodrigues, Larry Fink, Mark Klett, Nuno Cera e Paulo Nozolino.

 

Cristina Garcia Rodero - Açores

© Cristina Garcia Rodero – Debaixo da Magnólia, São Miguel, 1996, Colecção Encontros de Fotografia
A fotógrafa espanhola foi sem dúvida um dos nomes-chamariz desta exposição.

 

Mais surpeendente foi a dupla viagem ao passado que estes trabalhos evocaram. Começando pelo mais óbvio, é interessante observar fotografias que contêm uma componente histórica mas, dada as poucas décadas de distância, ainda nos despertam um sentimento de familiaridade. A outra viagem ao passado prende-se com a sensação de dinamismo da produção de fotografia em Portugal aparente nessa década (e em particular a vivacidade cultural na cidade de Coimbra), algo invejável quando comparado com o árido e tendencialmente elitista panorama fotográfico nacional em que vivemos actualmente.

 

John Davies - Expo 98

Uma das obras que mais gostei foi a de John Davies que registou a construcção da Expo 98. É daqueles trabalhos que, pela proximidade geográfica e por me identificar com o estilo de fotografia, me fez perguntar num primeiro instante “porque é que eu não pensei nisto?” para em seguida constatar que em 1998 com apenas 17 anos estava longe de sequer suspeitar que alguma vez me iria interessar por fotografia.

 

No final da exposição, e porque o meu formato de eleição para apreciar fotografia é o livro, precipitei-me para a selecção de alguns catálogos que se encontravam no balcão de entrada. Já disposto a arrecadar alguns exemplares, sou informado que infelizmente apenas estava disponível para venda o livro “SUL” da edição dos Encontros de Fotografia de 1997. Por sorte, este catálogo é também aquele que julgo reunir a maioria dos trabalhos expostos, pelo que é também uma boa oportunidade de apreciar parte da exposição para quem não teve oportunidade de a visitar (terminou no passado dia 8 de Fevereiro).

Feitas as contas, fiquei satisfeito com esta exposição. O facto de ter saído de lá com um livro, influenciou bastante esta minha satisfação. Depois disto, resta-me ser paciente e aguardar um próximo evento relevante a nível de fotografia, parece que em Abril algo vai acontecer na Cordoaria Nacional…

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Nikon V1

Lembro-me de ler um artigo noutro blog em que se especulava que máquinas digitais usariam alguns dos fotógrafos mais famosos da história se vivessem nos dias de hoje. Foi curioso observar que uma das associações que mais deu que falar foi a de Henri Cartier-Bresson a uma Nikon V1.

Mesmo que com algumas reticências, julgo que concordo. Apesar de ser conhecida a preferência que este fotógrafo dava às Leica M, não nos podemos esquecer que estas máquinas eram a melhor ferramenta que existia na altura para o estilo de fotografia que Henri Cartier-Bresson praticava.

Até há bem pouco tempo, uma máquina fotográfica compacta era sinónimo de uma qualidade de imagem medíocre por culpa dos diminutos sensores com que habitualmente este tipo de câmara era equipada. Mas hoje em dia a oferta de máquinas pequenas com bom desempenho já é vasta: os grandes sensores que anteriormente apenas se viam nas dSLR começaram a surgir em corpos mais pequenos (o fenómeno mirroless). Neste aspecto a Nikon teve uma abordagem curiosa ao optar por manter os sensores APS-C apenas nas suas dSRL e criar o sistema Nikon 1 com um novo formato de sensor de 1″.

Tamanho de sensores

Um sensor de 1″ pode não impressionar quando comparado com os formatos maiores, mas é significativamente superior aos “antigos” formatos mais pequenos utilizados em compactas e telemóveis.

Acho este novo formato interessante. Pode vir a prolongar a vida do mercado das compactas, cada vez mais decadente por culpa (merecida) dos smartphones. Um sensor de 1″ é suficientemente pequeno para equipar máquinas de bolso (não nos podemos esquecer que quanto maior o sensor, maiores têm de ser as lentes), mas é também suficientemente grande para garantir um sólido avanço em termos de qualidade de imagem.

Inicialmente não dei muita atenção a este novo sistema da Nikon, mas há dois anos atrás, quando procurava uma câmara pequena que complementasse a Fujifilm X100, cheguei à conclusão que a V1 era a melhor escolha para o que pretendia. Esta decisão foi até para mim um pouco surpreendente tendo em conta que, em muitos aspectos, a V1 é como que uma antítese da X100.

As diferenças saltam à vista: enquanto na X100 o nível de controlo é imediatamente visível com todas as rodas e botões no corpo da máquina, a V1 é mais “minimalista” (adjectivo simpático para dizer que é mais básica).

Até certo ponto, algumas das diferenças eram desejadas. Afinal o objectivo era ter uma máquina que colmatasse as duas principais limitações que sentia com a Fujifilm X100: a objectiva fixa de 23mm (equivalente a 35mm) e o ritmo de utilização mais lento.

O primeiro problema é resolvido pelo sistema de objectivas intermutáveis da Nikon V1.
A objectiva zoom Nikkor VR 10-30mm f/3.5-5.6 que vem de origem (equivalente a 28-80mm) pode ser algo limitada a nível de diafragma, mas compensa em versatilidade de distâncias focais. Em situações de baixa luminosidade ou de maior exigência no que toca a resolução, substituo o zoom pela excelente e luminosa focal fixa Nikkor 18,5mm f/1.8 (equivalente a 50mm). Agrada-me bastante a combinação entre a 35mm da Fuji e a 50mm da Nikon: as duas distâncias focais clásssicas da fotografia de rua.

Jardim da Estrela, Lisboa 2013 © Ricardo Silva Cordeiro
Fotografia nocturna com a Nikor 18,5mm a f/1.8. O zoom básico é surpreendentemente bom, mas a Nikkor 18,5mm é provavelmente a melhor objectiva para o sistema Nikon 1.

Quanto à velocidade, estas duas máquinas estão em patamares muito diferentes. A V1 é um verdadeiro monstro no que toca à rapidez de disparo e auto-foco. É de facto a máquina mais rápida que alguma vez usei. Tem um auto-foco praticamente instantâneo (foi aliás pioneira na tecnologia de auto-foco híbrido capaz de rivalizar com as dSLR) e uma velocidade de disparo de até 60 fotografias por segundo, mesmo em modo RAW e na resolução máxima. Isto faz com que, ao contrário do que acontece com a X100, não se possa culpar a máquina por não ter apanhado uma fotografia no momento certo.

Para além destas diferenças entre as duas máquinas, na escolha da V1 foram também importantes e decisivas as características que tem em comum com a X100 (e que são para mim cruciais na fotografia de rua):
– Corpo compacto;
– Visor integrado (neste caso electrónico);
– Disparo silencioso;
– Formato nativo de 3:2 (a maioria das compactas é de 4:3)
– Boa qualidade de imagem (pelo menos com valores ISO mais baixos).

Mencionados todos os factores positivos da Nikon V1, vamos agora aos negativos. Até porque, quem já leu sobre esta máquina, deverá ter reparado que todos estes elogios contrastam com outras opiniões que circulam.

É verdade que a V1 sofre de alguns problemas de design e interface: a falta de controlos directos que nos obriga a recorrer ao menu para alterar coisas tão básicas como o modo de prioridade ao obturador ou diafragma, a disposição de botões mal pensada e o facto de ser obrigatório ver a fotografia depois de ser tirada (mesmo no visor) são algumas das características que me fazem questionar o que passou pela cabeça dos engenheiros da Nikon. Nos novos modelos que entretanto surgiram (V2 e V3) estes problemas foram resolvidos, mas mesmo com falhas, a V1 é a máquina deste sistema que mais me agrada: a V2 é demasiado volumosa e a V3 não tem visor de origem. Há que contar ainda que a “má fama” deste primeiro modelo acaba por lhe conferir uma grande vantagem a nível de preço. No meu caso, consegui comprar uma V1 em segunda mão, ainda com um ano de garantia e com o zoom básico por menos de 200 euros. Preços como este tornam mais fácil ser menos exigente com a máquina, bastou-me perceber e aceitar as limitações da V1 para não me preocupar com elas: geralmente configuro a máquina em modo de prioridade ao obturador 1/500S e auto-ISO 100-400. Esta configuração resulta em 90% das situações e permite-me não me preocupar com mais nada sem ser fotografar.

Falando em limitações, é também inevitável referir a qualidade de imagem do sensor de 1″ com valores ISO mais altos (800 para cima). De facto, com a V1 evito passar de ISO 400 para ter a garantia de que a qualidade é suficiente. Os ficheiros RAW da V1 geralmente precisam de ser mais trabalhados do que os de máquinas com sensores maiores (principalmente a nível de cor) mas nada que seja muito limitativo dada a surpreendente quantidade de informação que os ficheiros RAW retêm.

Campo de Ourique, Lisboa 2013 © Ricardo Silva Cordeiro
Ficheiro RAW sem tratamento (esq.) e pós-produção final (dir.). Este talvez tenha sido o primeiro caso de recuperação mais extrema com que me deparei, o céu pareceu ter ficado demasiado exposto e a parte inferior sub-exposta. Foi possível recuperar facilmente os detalhes das nuvens e equilibrar a luz na zona mais escura em baixo, uma prova do excelente alcance dinâmico do pequeno sensor de 1″.

Claro que, ao contrário do que afirmou um dos representantes da Nikon quando o sistema Nikon 1 foi lançado, a qualidade de imagem não está ao mesmo nível de uma máquina com sensor APS-C, mas de facto está mais próxima de um destes formatos maiores do que das compactas vulgares, o que é notável.

Como é sabido, a escolha de uma máquina fotográfica depende do que é pretendido pelo fotógrafo. A V1 pode não ser a ferramenta ideal para fotografar à noite ou produzir imagens plenas de detalhe quando impressas em formatos maiores, mas para fotografia de rua é mais que suficiente. A qualidade é no mínimo semelhante à do filme de 35mm usado por Henri Cartier-Bresson, é visível algum grão ou ruído nas imagens, mas nada que torne impeditivo fazer boas fotografias.

Tudo isto faz-me pensar que opinião teria Henri Cartier-Bresson da Nikon V1. Apanhar o “momento decisivo” é certamente mais fácil com a super-rapidez desta máquina. E o sensor pequeno traz a vantagem de poder usar máquina em hiper-focal mesmo com valores de diafragma mais baixos, algo de extrema utilidade na fotografia de rua. Estas características talvez fossem encaradas como um facilitismo excessivo tendo em conta o orgulho que este fotógrafo tinha na sua técnica. Mas é também necessário desmistificar a ideia de que os grandes fotógrafos só fazem uma fotografia de uma determinada cena e que sai tudo bem à primeira. Quem já teve a oportunidade de ver provas de contacto sabe quão longe da realidade está esse mito.

© Henri Cartier-Bresson / Magnum Photos
Versões alternativas (esq.) de fotografias conhecidas (dir.) de Henri Cartier-Bresson.

Nunca saberemos se Henri Cartier-Bresson conseguiria ser mais produtivo com uma Nikon V1, mas creio que pelo menos conseguiria continuar a oferecer-nos fotografias com o mesmo nível de qualidade.

No meu caso, não posso dizer que a Nikon V1 tenha transformado a minha forma de fotografar como fez a Fujifilm X100, mas é uma máquina que encaixou perfeitamente na rotina de fotografia de rua que já tinha com a Fuji. Utilizo-as frequentemente em simultâneo: cada uma pendurada num ombro diferente, vou alternando entre as duas conforme necessário, com uma fluidez que me faz sentir preparado para todas as situações.

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Fujifilm X100

Há uns anos atrás, era do senso comum que qualquer fotógrafo que ambicionasse ser mais que um amador teria que usar uma máquina reflex (pelo menos no que concerne às digitais). Eu, equipado com uma Canon 5D MkII e uma panóplia de objectivas, não era excepção.

Ainda assim, quando surgiu a primeira geração de máquinas mirrorless em 2009, não hesitei em comprar uma Olympus PEN E-P1 logo no lançamento. Agradava-me a ideia de ter uma máquina portátil, com uma qualidade de imagem aceitável, numa altura em que as compactas deixavam muito a desejar a esse respeito. Mas apesar disto, sempre encarei esta máquina como secundária; quando tinha a intenção de “fotografar a sério”, pegava sempre na volumosa mochila que continha o material da Canon.

Mas em 2011 ocorreu algo que iniciou um lento mas imparável processo de mudança: ao visitar uma loja de fotografia, por mera curiosidade, decidi pedir a um funcionário para experimentar uma Fujifilm X100.

A empatia foi imediata. A X100 tinha tudo o que desejava numa máquina para o “dia-a-dia”: os controlos manuais, a objectiva de 23mm f/2, o visor óptico híbrido, a excelente qualidade de imagem até ISO 1600 e o obturador silencioso; todas elas características que me conquistaram imediatamente. Saí da loja decidido a comprá-la, e no dia seguinte pus à venda a Olympus e as suas duas objectivas.

Apesar de entusiasmado com a nova aquisição, as primeiras semanas com a Fujifim X100 revelaram-se frustrantes. Não só pela adaptação a uma máquina muito diferente do que já tinha utilizado, como também a outro factor muito importante: a X100 parecia ter sido feita para a fotografia de rua, pelo que a encarei como um passaporte para me iniciar neste estilo de fotografia que sempre me atraiu.

Até então, as fotografias que fazia eram essencialmente paisagens urbanas, um género em que a abordagem é vagarosa e ponderada. A fotografia de rua é radicalmente diferente: para apanhar o momento certo não há tempo para pensar, é necessário recorrer ao imediatismo da intuição, tanto para enquadrar como para configurar as definições da câmera. Os controlos manuais da X100 permitem-nos criar como que uma simbiose com a máquina, ainda que seja necessário passar por uma fase de habituação e treino até que possamos manuseá-la sem pensar.

Lapa, Lisboa 2011 © Ricardo Silva Cordeiro
A primeira fotografia que fiz com a Fujifilm X100. Como ainda não estava habituado a uma máquina com tantos controlos manuais, não reparei que, ao retirá-la da mala, a tinha configurado acidentalmente para uma velociade de obturador de 1/4000. O resultado foi uma fotografia muito escura, apesar de ser em plena luz do dia. Valeu-me o excelente alcance dinâmico do sensor para salvar a imagem em pós-produção (mesmo que tenha ficado com algum ruído).

A objectiva fixa de 23mm (equivalente a 35mm nas full-frame) foi outra característica à qual tive que me adaptar. É uma distância focal extremamente versátil e elegante por ser um pouco angular, mantendo uma perspectiva natural. Mas é exigente, obriga-nos a uma desconfortável, mas necessária, aproximação aos sujeitos para obter bons resultados.

Jardim da Estrela, Lisboa 2011 © Ricardo Silva Cordeiro
Um dos meus primeiros resultados satisfatórios na fotografia de rua.

De certa forma, este sentido de exigência resume bem o que é utilizar a Fujifilm X100. Julgo que é possível afirmar que esta máquina marcou um antes e depois na minha fotografia. Fez-me sair da minha zona de conforto e ajudou-me a progredir numa altura em que sentia alguma estagnação, simultaneamente proporcionando um prazer de utilização inigualável.

Tudo isto fez com que a Canon 5D MkII fosse passando para segundo plano, apesar de contar com algumas vantagens como a rapidez de foco muito superior e as objectivas intermutáveis, características que em algumas ocasiões senti falta ao fotografar na rua com a X100. O que me levou a questionar: e se complementasse a Fuji com outra máquina? Foi este pensamento que me levou a adquirir a câmera de que irei falar no próximo artigo, a Nikon V1. Até breve.
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Há fotografia em Algés

Enquanto preparo os artigos acerca das minhas máquinas fotográficas, faço um aparte para promover uma iniciativa que me foi comunicada pelo Carlos Filipe Maia, um seguidor deste blog a quem estou mais uma vez grato por me informar sobre um acontecimento que me poderia escapar:

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Clique 2.0 . Falar, ver e fazer fotografia
22 Maio . Quinta . 19h30
Centro de Arte Manuel de Brito . Palácio Anjos . Algés

Nesta primeira sessão de um novo ciclo dedicado à fotografia, o fotógrafo Alexandre Almeida apresenta o seu trabalho e conversa com o público.

Entrada livre

Informações
tel. 214 404 829 . foto30dias@cm-oeiras.pt

BIOGRAFIA
Alexandre Almeida nasceu em Lisboa em 1969, tendo logo passado a viver em Algés. Estudou fotografia na Academia de Artes & Tecnologias e pós-produção de vídeo na Restart. De 1994 a 2004 trabalhou no Independente, onde editou os suplementos de cultura e lazer. Em 2001 foi convidado pela Câmara Municipal de Oeiras a realizar um trabalho documental sobre o fim dos bairros degradados no concelho, do que resultou um livro – De Partida. Tem publicado em jornais e revistas nacionais e estrangeiras, como L’Express, Libération, The Guardian, Courrier Internacional, Grande Reportagem, Up, Visão, Única e Pública. Paralelamente foi desenvolvendo actividade na área da formação, tendo sido coordenador e formador em duas masterclasses, para o Festival Entre Margens, e tem, igualmente, colaborado com o Instituto Português de Fotografia. Tem exposto em mostras individuais e colectivas, nomeadamente fazendo parte de diversos projectos da Kameraphoto, da qual é membro fundador. Destes destacam-se “State of Affairs” e “Um Diário da República”. E integra o grupo de fotógrafos representados pela Dear Sir – Agência de Fotografia de Autor. Já plantou uma árvore, editou um livro e tem duas filhas.

www.kameraphoto.com
www.dearsir-agency.com

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A minha escolha

máquinas fotográficas 2014

Na Fotografia, como em quase todas as disciplinas, julgo ser benéfico procurar equilibrar as suas várias facetas: se é importante conhecer o trabalho dos grandes autores ou reflectir sobre o papel da fotografia na actualidade (o intelectual), em nome do equilíbrio, é igualmente vantajoso ter interesse pela técnica e/ou pelas máquinas fotográficas (o material).

É certo que existe sempre um desequilíbrio entre o intelectual e o material em cada fotógrafo, em alguns casos intencional e assumido, noutros nem por isso.
Pessoalmente, tenho dificuldade em discernir para que prato da balança tendo mais. Tanto gosto de comprar livros de fotografia para conhecer melhor os autores como tenho também um interesse natural por tecnologia que me faz gostar de experimentar e perceber as máquinas fotográficas.

Apesar desta minha admiração por máquinas, dificilmente compraria uma com o mero intuito de a guardar como objecto de colecção. O que gosto mesmo nas máquinas é utilizá-las para fazer fotografias, não consigo racionalizar a aquisição de um objecto dispendioso para fins meramente ostentativos. Foi este raciocínio que recentemente me levou a tomar a decisão de vender uma máquina fotográfica que, apesar de ser excelente, há já algum tempo que tinha muito pouco uso: a Canon 5D MkII.

O facto é que desde que comecei a usar máquinas do tipo mirrorless a Canon ficou cada vez mais tempo guardada na mochila. O peso e tamanho das dSLR tornou-se para mim algo maçador que retirava parte do gozo à fotografia*.

O dinheiro amealhado com a venda da Canon e de (quase) todas as objectivas, permitiu-me adquirir um conjunto de máquinas que é para mim bem mais interessante e, principalmente, que vou usar com maior regularidade. Foi também positivo o facto de, no fim do processo, ainda me ter sobrado dinheiro.

Nos próximos artigos escreverei sobre cada uma das máquinas que uso actualmente e de quão distintas são entre si, cada qual especializada numa tarefa específica, uma diversidade que pessoalmente me dá muito mais gozo do que usar uma máquina “faz-tudo” (dSLR). Das quatro máquinas que tenho, começarei por falar sobre a que uso há mais tempo: a Fujifilm X100. Até breve.


* Sempre simpatizei com a cultura japonesa (exceptuando alguns pormenores como o exagerado espírito de auto-sacrifício), e a minha conversão às mais pequenas e leves máquinas mirrorless é mais uma prova disso: no Japão existe um fascínio pela miniaturização da tecnologia que faz com que o mercado das mirroless esteja em actualmente em expansão. Já nos E.U.A. a mentalidade de bigger is better faz com que as dSLR continuem a imperar. Pelo que sei, na Europa o mercado divide-se, mas julgo que não tardará muito até que as vantagens das mirroless sejam evidentes a todos.

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A ver

Na sequência do meu artigo anterior, recomendo-vos ver o programa “Entre Imagens” que passa actualmente na RTP2.

Consiste numa série de 13 programas (ainda a decorrer) onde podemos ouvir na primeira pessoa alguns dos nomes mais proeminentes da fotografia nacional. De entre estas personalidades existem alguns nomes que entraram no meu TOP 5 de fotógrafos nacionais favoritos (Augusto Brázio e Paulo Catrica) e outros que não entraram nesta lista por um triz (António Júlio Duarte e Edgar Martins).

Se, como eu, não têm tempo e/ou paciência para seguir horários televisivos, podem ver os vários episódios em: www.rtp.pt/programa/episodios/tv/p30791/1

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Recomendo também a exposição “Este é o Lugar / This must be the place: uma retrospectiva do fotógrafo sul-africano Pieter Hugo a visitar na Fundação Calouste Gulbenkian até 1 de Junho de 2014. Excelente a todos os níveis.

Pieter Hugo

© Pieter Hugo

Não estava totalmente familiarizado com o trabalho deste fotógrafo, conhecia o portfolio “The Hyena and Other Men” e pouco mais, algo que acabou por enriquecer a minha visita com a experiência de descoberta. Mas se pretenderem uma introdução a este fotógrafo podem ler uma excelente entrevista conduzida por Sérgio B. Gomes para o Ípsion em:  http://ipsilon.publico.pt/Artes/texto.aspx?id=332367

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Na minha visita à Gulbenkian, no edifício do CAM, encontrei na Livraria Almedina o seguinte livro (que me faz novamente voltar ao meu TOP5 de fotógrafos nacionais):

TNSC - Paulo Catrica

Uma edição da Fundação EDP de uma exposição de 2011 (que, confesso, me escapou completamente) com o trabalho de Paulo Catrica, mais concretamente o projecto “TNSC – A Prospectus Archive” sobre o Teatro Nacional de São Carlos.

Se gostam do trabalho deste fotógrafo e forem colecionadores de livros de autor, por 20 euros ainda podem adquirir um exemplar que, desconfio, brevemente deixará de se encontrar à venda.

Na mesma prateleira está também outra excelente edição da Fundação EDP: o catálogo da exposição “Un Certain Malaise” de Rodrigo Amado. Um livro que urgia acrescentar à minha colecção antes que esgotasse (o eterno problema das edições limitadas) mas que finalmente comprei aproveitando os descontos de uma loja online.

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Os nossos cinco melhores

Para quebrar a minha habitual rotina de reverência aos mestres da Magnum, partilho aqui um TOP 5 dos fotógrafos portugueses contemporâneos que mais admiro (sem ordem de preferência):

Rodrigo Amado

© Rodrigo Amado

“Para ter um trabalho interessante um artista tem de ter uma vida interessante”.
Apesar de não concordar completamente com esta conhecida frase (tenho por princípio aversão a qualquer chavão absolutista), julgo ser possível encaixá-la no trabalho de Rodrigo Amado. Com uma dupla carreira de fotógrafo e saxofonista de jazz, as suas fotografias parecem crónicas de um quotidiano invulgar. Uma das coisas que mais admiro no seu trabalho é conseguir fazer algo muito difícil: imagens aparentemente aleatórias e disconexas que resultam num conjunto surpreendentemente coerente.

© Rodrigo Amado

© Rodrigo Amado

Para ver mais: www.rodrigoamado.com

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Daniel Blaufuks

“Unfinished Story” © Daniel Blaufuks

Se existe uma diferença entre fotógrafo e artista plástico que usa a fotografia como meio de expressão, Daniel Blaufuks caminha perigosamente na fronteira entre estes dois géneros. Por entre diversos trabalhos de carácter algo hiperconceptual e/ou experimental (que, confesso, me deixam indiferente), existem projectos como “Hiato“, “Motel” ou “Collected Short Stories” de carácter claramente fotográfico. Gosto particularmente de “Collected Short Stories”, fico sempre fascinado com o tom cinematográfico e misterioso destes dípticos.

“September Story” © Daniel Blaufuks

“Banal Story” © Daniel Blaufuks

Apesar do site estar algo confuso, deixo-vos o endereço para descobrirem mais sobre este autor: www.danielblaufuks.com

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Augusto Brázio

© Augusto Brázio

Dada a natureza da profissão, é difícil desenvolver um cunho autoral no fotojornalismo.
A diversidade de temas a tratar ou o escrutínio ao tratamento das fotografias (excesso de Photoshop) são dois factores que dificultam a afirmação ou reconhecimento de um fotojornalista como autor.
Mas basta ver o trabalho de Augusto Brázio para perceber que é possível fazer fotojornalismo fora do formato “standard”; com fotografias de uma qualidade técnica e artística acima da média, que tanto podem servir o propósito de ilustrar um artigo como figurar numa galeria de arte.

© Augusto Brázio

© Augusto Brázio

No site da Kameraphoto (colectivo a que este fotógrafo pertence) podem ver mais sobre este autor: www.kameraphoto.com

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Paulo Catrica

© Paulo Catrica

Creio que existe um acumular e conjugar de influências na génese de qualquer artista, o que torna natural e inevitável tecer comparações entre autores. Ao dizer que Paulo Catrica é o Mark Power português estou a demonstrar uma grande admiração pelo seu trabalho, afinal de contas Mark Power pertence ao meu TOP 10 de fotógrafos favoritos a nível mundial (ou até TOP 5, dependendo do dia). A associação que faço entre estes dois autores é potenciada pelo livro “Trilogia“, um dos livros de fotografia portugueses que mais gosto (e que recomendo a todos procurarem), que mostra Évora pelos olhos de Mark Power, Paulo Catrica e José M. Rodrigues.

© Paulo Catrica

© Paulo Catrica

Ao que parece, de momento o site de Paulo Catrica não está online, pelo que, para já, será necessário recorrer a motores de busca para conhecer melhor o seu trabalho. É uma pena, lembro-me de o visitar há uns tempos e ter gostado bastante do que vi por lá.

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Rui Palha

© Rui Palha

Ao fotografar em cidades de forte afluência turística, existe sempre um grande risco de cair em lugares comuns. Mas Rui Palha consegue a proeza de tornar interessante qualquer local hiper-fotografado (o que, pensando bem, talvez até confira um interesse extra às suas fotografias).
Rui Palha é um fotógrafo de rua por excelência. Usa de forma exemplar as técnicas clássicas de contrastes de luz e linhas de força em fotos a preto-e-branco de alto efeito dramático.
Julgo que esta solidez técnica é, em parte, um dos factores que leva o trabalho deste autor a ter um forte alcance popular. É como se espelhasse a imagem que o imaginário colectivo tem da fotografia. Junte-se à técnica uma melancolia (tão portuguesa) inerente às imagens e a eficácia emotiva é garantida.

© Rui Palha

© Rui Palha

Este fotógrafo tem uma forte presença em  várias galerias online, mas recomendo-vos a visita ao site oficial onde a selecção e organização de fotografias é bastante mais sólida: www.ruipalha.com

 

Certamente que, para muitos, este meu TOP 5 é composto pelos suspeitos do costume, mas este é um risco que vale a pena correr tendo em conta que existe também a hipótese de dar a conhecer alguns destes autores. Nesta selecção, limitei-me a escolher fotógrafos já com uma carreira bem estabelecida, digo isto porque começam a surgir alguns novos talentos bastante interessantes, algo que poderá ser assunto para outra lista de favoritos.

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Fotografar Marrocos

Marrocos, Marraquexe © Ricardo Silva Cordeiro

Para quem me acompanha no flickr não será novidade que passei uns dias em Marrocos.

Gostei bastante da experiência. Pareceu-me que naquele país surge algo interessante para fotografar a cada minuto, e digo isto sem exagero. Basta ficar parado numa rua da Medina de Marraquexe é garantido que, no meio de todo o frenesim, surgirá espontaneamente uma ou mais cenas dignas de registar.

Não sei ao certo o número total de fotografias que fiz durante os sete dias de viagem. Mesmo com vários cartões SD, receei ficar sem espaço de armazenamento e, no final de cada dia, fiz uma triagem para descartar as imagens menos relevantes. Ainda assim voltei para Portugal com mais de 1300 fotografias, um valor que sofreu algumas baixas numa segunda selecção (já no computador), mas que mesmo depois disso permaneceu considerável.

Durante o regresso, dei por mim a pensar que se tivesse ficado por lá uns meses, voltaria com um portfolio fotográfico que me marcaria para a vida. E para tal nem seria necessário sair de Marraquexe, o local onde passei mais tempo.

Dito isto, não se julgue que é de todo fácil fotografar em Marraquexe. Nesta cidade com forte presença Islâmica, grande parte da população ainda se opõe à representação artística de qualquer ser vivo uma vez que, segundo o Islão, isso seria utilizar um poder criativo reservado apenas a Deus. Conjugue-se esta mentalidade com um constante contacto com o turismo de massas e obtemos um povo que, por mais inocente que seja a nossa intenção, vê o acto de fotografar como uma invasão.

A propósito deste obstáculo à fotografia, foi curioso acompanhar nos dias anteriores à minha viagem o projecto que a Magnum Photos realizou em Marraquexe, a convite do Marrakech Museum of Photography and Visual Arts (que resultou numa exposição que de resto aproveitei para visitar durante a minha estadia). Foi-me bastante útil saber das dificuldades sentidas pelos fotógrafos Mark Power, Jim Goldberg, Susan Meiselas, Mikhael Subotsky e Abbas no decorrer do seu trabalho. Claro que por ser um fotógrafo amador, estive livre dos constrangimentos formais a que os profissionais da Magnum se têem que sujeitar, mas conhecer a resistência dos marroquinos à fotografia permitiu-me escolher a máquina ideal para fotografar em Marraquexe: a Nikon V1.

Num local em que as pessoas instintivamente se escondem ou fazem má cara quando confrontadas com uma máquina fotográfica, a rapidez e discrição são factores cruciais. A Nikon V1 é uma máquina especial*, consegue reunir as vantagens de uma máquina compacta (é pequena, discreta e silenciosa) com características normalmente associadas a máquinas mais avançadas como um sistema de objectivas intermutáveis, visor electrónico de alta-resolução, qualidade de imagem superior (tem um sensor de 1″) e, principalmente, rapidez: a V1 é extremamente rápida, tem um foco virtualmente instantâneo e consegue fazer até 60 fotografias por segundo, mesmo em RAW e na resolução máxima.

A Nikon V1 facilita apanhar rapidamente o momento certo. E fá-lo sem que ninguém dê conta.
Marrocos, Marraquexe © Ricardo Silva Cordeiro

Esta velocidade de operação não só foi um trunfo nas ruas de Marraquexe como também se revelou útil nos quatro dias de longas viagens pelas montanhas do Alto Atlas até ao deserto de Merzouga. Mesmo passando grande parte do tempo dentro de um jipe, consegui fotografar em andamento o que via pelo caminho: configurei a máquina para uma velocidade de obturador alta, e fui disparando sequências de 10 fotografias por segundo quando passava por algo que me parecia interessante. O resultado desta experiência (que serviu também para combater o tédio) acabou por revelar-se recompensadora e quase funcionar como um portfolio à parte.

Nikon V1

Exemplos de fotos tiradas em andamento.
Marrocos © Ricardo Silva Cordeiro

Se foi importante usufruir das vantagens da V1, foi também fulcral conhecer de antemão as suas limitações: qualquer máquina com um sensor pequeno (e um sensor de 1″ é pequeno, apesar de maior que o das compactas vulgares) vai ter problemas com valores ISO superiores a 400, e esta Nikon não é excepção. Mesmo com a objectiva Nikkor 18,5mm f/1.8, quando a luz baixa, a qualidade de imagem fica bastante comprometida, e a noite de Marraquexe é digna de ser fotografada. Foi nestas ocasiões que a Fujifilm X100 entrou em cena; apesar de não ser uma máquina que prima pela rapidez é igualmente discreta e oferece uma qualidade de imagem bastante superior, mesmo a ISO 1600.

Noite de Marraqueche.

Mesmo durante a noite, o comércio de Marraquexe não pára.
Marrocos, Marraquexe © Ricardo Silva Cordeiro

Visitar Marrocos é uma experiência que recomendo a todos os fotógrafos de rua. A experiência que acumulamos com os “treinos” pelas nossas cidades é totalmente posta à prova, principalmente em Marraquexe. Outra mais valia que obtive desta viagem foi ter voltado com bastantes fotografias para pós-produzir durante estes meses de Inverno em que, fotograficamente falando, as ruas de Portugal estão semi-mortas.


*A Nikon V1 é uma máquina geralmente subvalorizada mas muito interessante pelo conjunto de características que oferece. Quanto mais a uso, mais importante me parece dedicar-lhe um artigo aqui no blog, para que muitos fotógrafos de rua não a deixem passar ao lado.

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Proximidades

Get Closer - Magnum Photos

Descobri há uns dias o projecto intitulado Get Closer criado pela Magum Photos em homenagem ao 100.º aniversário de Robert Capa.

A premissa é interessante: tendo como ponto de partida a célebre frase de Robert Capa “se as tuas fotografias não são suficientemente boas é porque não estavas suficientemente perto” (tradução livre), durante 100 dias fotógrafos conceituados aproximar-se-ão do trabalho de Robert Capa, apresentando imagens em paralelo com algumas das suas lendárias fotografias.

Mesmo que apenas isto bastasse para suscitar interesse, estas imagens são enriquecidas com comentários dos fotógrafos convidados que, inevitavelmente, para além de homenagear a vida e obra de Robert Capa, frequentemente comentam a famosa frase-chavão.

Robert Capa / Mark Power

Robert Capa / Mark Power
© Robert Capa/Magnum Photos/ICP
© Mark Power/Magnum Photos

Chamou-me a atenção o texto de Mark Power que refere como não se identifica com esta espécie de “regra” popularizada por Robert Capa. Gostei deste comentário porque confesso que desde muito cedo esta frase sobre proximidade me deixou de pé atrás, e aqui temos um claro exemplo do porquê. Basta ver o trabalho de Mark Power para perceber que a grande diferença entre este fotógrafo e Robert Capa resume-se a uma palavra: escala. Um fotógrafo de guerra tem de estar “em cima do acontecimento”, enquanto a batalha de Mark Power é conseguir distanciar-se suficientemente para fotografar sujeitos de escala monumental. Mark Power não se aproxima porque não é isso o desejável para obter o efeito que tem em mente.

Este e outras dogmas da fotografia (lembro-me agora de Cartier-Bresson com a sua regra de “nunca reenquadrar”) são até certo ponto úteis, mas na minha opinião devem ser interpretados e adaptados aos nossos métodos e finalidades. 

Uns quantos passos para a frente e o efeito não seria o mesmo.
Nazaré, Portugal © Ricardo Silva Cordeiro

Ficarei atento a este projecto que à data deste artigo vai ainda a 1/4 dos 100 dias e já tem excelentes contribuições. Não sei se fará com que os fotógrafos se aproximem mais dos seus sujeitos, mas certamente que nos aproximará mais a todos do trabalho de Robert Capa.

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A Sony vencedora

Em 2006 a comunidade fotográfica ficou apreensiva com a notícia da aquisição pela Sony da conceituada mas decadente Konica/Minolta. Neste meio, a marca Sony não era associada a máquinas fotográficas para uso “sério”, era um nome ligado a gadgets, uma empresa que fabricava apenas máquinas compactas orientadas para o mercado de consumo. Apesar disto, julgo que mesmo as duas gigantes desta indústria, a Canon e a Nikon, se devam ter sentido intimidadas com esta notícia.

A história mostra-nos que a Sony dificilmente perde em qualquer área em que investe, e esta não foi excepção. Mesmo sendo uma estranha no meio da fotografia profissional, não receou sentar-se ao lado dos grandes, lançando logo em 2007 a full-frame Sony a900 que competiu numa área onde praticamente apenas a Canon e Nikon tinham dimensão para entrar.

No entanto a Sony não se contentou em fazer apenas mais do mesmo num mercado que há uns anos estava estagnado e saturado de modelos de dSLRs bastante semelhantes entre si. Aproveitando o facto de ser uma nova cara neste meio, com uma base de utilizadores por conquistar, decidiu também arriscar coisas novas, sendo por exemplo a grande impulsionadora dos visores electrónicos e das máquinas compactas com sensores APS-C.

Este impulso não beneficiou apenas os consumidores: numa altura em que a Canon estava no topo no âmbito da qualidade de imagem, finalmente surgiu uma empresa que oferecia sensores de qualidade equiparável e, ao contrário da Canon, fabricava-os para outras marcas. Este facto mudou bastante o mercado, muitos fabricantes implementaram os sensores da Sony nas suas máquinas fotográficas acertando assim o passo em relação à Canon.

De geração para geração a Sony tem vindo a melhorar a sua tecnologia estando agora na linha da frente nesta área: não só os sensores das máquinas Sony são excelentes, como ajudaram a fabricar o monstro de resolução que é a Nikon D800, fizeram com que as máquinas Olympus – mesmo tendo um sensor mais pequeno – tenham agora uma qualidade de imagem ao nível das reflex APS-C, ou com que a minha Fujifilm X100 me surpreenda ao conseguir um maior alcançe dinâmico que a full-frame Canon 5D MkII.

Há uns dias atrás a Sony arriscou mais um passo em frente em relação à concorrência com o lançamento de duas máquinas mirrorless com sensores full-frame: a Sony A7 e Sony A7r.

Estes dois modelos são bastante semelhantes, sendo a principal característica que os distingue a resolução dos seus sensores: 24mp para a A7 e 36mp sem filtro anti-aliasing para a A7r.

São máquinas que parecem ser o culminar do que a Sony tem aprendido com a linha NEX e, a meu ver, talvez o início de uma nova vaga de modelos com sensores grandes em corpos pequenos a preços acessíveis – o full-frame para as massas – reminiscente às Olympus OM ou Nikon FE do tempo das analógicas. Já existem até rumores sobre uma nova FE digital da Nikon

Ao observar este plano de lançamento de objectivas torna-se evidente que a Sony esteve atenta às críticas no que concerne à inicial falta de objectivas para a linha NEX. Este novo sistema será bastante completo a curto prazo, e umas Zeiss 35mm f/2.8 e Zeiss 55mm f/1.8 nunca ficam mal na fotografia.

Se hoje pretendesse investir num sistema full-frame não hesitaria em descartar as dSLR escolhendo uma destas Sony. Nem me preocuparia com a falta de objectivas dos primeiros meses ou com o preço elevado das Zeiss. Isto porque uma das grandes vantagens de uma máquina mirrorless é a possibilidade de poder utilizar virtualmente qualquer objectiva que existe através de adaptadores. Mas até hoje as mirrorless não tinham sensores full-frame para tirar total partido de objectivas tão apetecíveis como são as do sistema Leica-M por exemplo. Estas máquinas vão fazer com que muita gente finalmente possa usar as suas objectivas de colecção sem a limitação dos sensores APS-C, e o foco manual não será problema com o visor electrónico de alta resolução e a ajuda do focus peaking.

Depois de anos de aperfeiçoamento e consolidação da tecnologia digital às máquinas fotográficas, parece-me que finalmente entrámos numa era bastante mais excitante, a da experimentação. E o melhor de tudo é que me parece que ainda agora começou.

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